quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Caramujos nos Aquários!

Caramujos nos aquários: Invasores ou aliados?
Aquários (dulcícolas ou marinhos) são sistemas que consideramos “fechados”, quer dizer, possuem um ciclo que independe do ambiente externo, nos aquários se o dia esta nublado, ou frio, pouco importa (do ponto de vista do ciclo) pois não interferem diretamente no aquário. Mas como tudo na vida, o aquário necessita de um equilíbrio este ciclo deve se sustentar por si só durante um período (e ai depende do tipo de aquarismo: Plantado, Fish Only, Marinho, auto-ciclante etc), por exemplo até a próxima TPA ou até a troca do material filtrante, e também deve ter a capacidade de se recuperar e restaurar o equilíbrio depois destas intervenções.

Mas ai a pergunta deve ser: “Que diabos isso tem a ver com caramujos ?”, a resposta é TUDO ! Pois como um ciclo biológico/ecológico cada ser vivo desempenha um papel em uma cadeia, isto é fato, animais predam outros animais, outros se alimentam de plantas e outros se alimentam de escrementos e assim por diante, e dentro do nossos aquários o “Drama da Vida” ocorre, existe não só entre os peixes, que atacam filhotes e os devoram, mas na chamada microfauna que habita este mundo, pequenos crustáceos, vermes, plancton, fito plancton e nossos queridos ou odiados caramujos ! Sim eles fazem parte desta fauna ! Se alimentando de outros animais, restos de plantas, algas, excesso de comida e quando morrem servindo de alimento para os outros membros da microfauna do aquário gerando um “círculo virtuoso” que mantém este sistema equilibrado!

Mas de onde eles aparecem ???

Sempre vemos em fóruns ou ouvimos nos encontros ou conversas a frase: “Apareceram uns caramujos no meu aquário que eu montei ontem !!! Como isso ?” Simples: Vieram no cascalho ou nas plantas que você adquiriu ou ganhou de uma poda de um amigo, vieram naquela pedra lindona que estava seca da sua última montagem, vieram no saquinho de transporte dos peixes, cairam do céu, não brincadeira, mas só faltava ! Uma verdadeira máquina de viver !
 
Caramujos são seres que aguentam qualquer parada, (a menos se ele custar caro, tiver apenas um na loja e você esta louco para que ele procrie, ai ele morre em segundos ! Murphy aplicado a moluscos caros!), eles vivem em ambientes com pouco oxigênio, amônia alta, nitritos, pouca água, sobrevivem até sem fazer aclimatação, enfim uma desgraceira de água, eles estão lá felizes. Por isto uma vez no nosso aquário fica muito difícil, sem utilizar meios invasivos, erradica-los, mas como veremos no decorrer do artigo, é muito mais inteligente utiliza-los e controla-los do que causar uma ectatombe nuclear no aquário usando produtos e arriscar o equilíbrio delicado do sistema.

Caramujo ou caracol ??

Cientificamente não existe diferença, são todos gastrópodes aquáticos ou não, portanto são sinônimos, porém é comum tratar caramujos como seres aquáticos e caracóis os de vida terrestre, como o que é combinado não é caro, seguiremos chamando nossos amigos de Caramujos, como referência aos molusco aquático.
Algumas informações sobre os caramujos.
Caramujos são moluscos gastrópodes, o termo gastrópode vem do grego gaster (estômago) e poda (pé), estômago-no-pé, e tem cerca de 75.000 espécies e estão entre os seres mais antigos do planeta (e você achou que era o Magro, né?). Uma das suas principais características é a carapaça que serve de abrigo e proteção em formato de espiral, se bem que nem todos os gastrópodes possuem esta carapaça, como é o caso da lesma que tem apenas um resquício desta carapaça. Dentro da concha se encontram as visceras que estão literalmente “torcidas” para pode se acomodar durante o crescimento do animal, o corpo do animal é formado por cabeça, que possui de 2 a 4 tentáculos, pé e...pé e mais pé ! Na verdade esta parte é chamada de pé ventral e é responsável pela locomoção do animal, nos animais aquáticos, a respiração é branquial.

Quase todos os gastrópodes são hemafroditas, quer dizer, possuem os dois sexos, porém para reprodução eles preferem possuir um parceiro para copular, isso se chama fecundação cruzada, algumas espécies, através de uma pequena disputa decide quem será a fêmea e carregará os ovos e outros ambos se fertilizam ao mesmo tempo. Mas quando o mercado esta escasso, eles/elas não passam aperto !!! Partem para produção independente e podem assim se autofertilizar, porém é uma atitude extrema, já que a fecundação cruzada garante que os filhotes terão uma genética variada e mais forte, e portanto mais vantajosa.

Como dito os gêneros e espécies são vários, desde alguns que mal enxergamos (mesmo adultos), às ampulárias que podem ficar do tamanho de uma bola de bilhar! Como diria os antigos, são várias “qualidades”! Vamos aqui falar dos mais comuns que ou “aparecem” no aquário ou que adquirimos em lojas pela sua beleza ou utilidade.
Planorbis:
Planorbis corneus, eles vivem em condições extremas, de pH ácido 6,2 até em pH muito alcalino 8,5. São comuns de serem encontrados e costumam desovar embaixo de folhas de plantas, mas podem colocar ovos em qualquer lugar dentro do aquário. Eles possuem as mais diversas colorações, sendo as mais comuns a marrom, a dourada e a variação albina conhecida como Red Ramshorn. Quando a população fica muito grande e não há algas no aquário eles podem comer as plantas, fazendo buracos nas folhas mais de plantas moles ou folhas mais jovens de plantas duras. São ótimos consumidores de restos de ração, peixes e demais animais mortos, algas como filamentosas, Green spot e outras, não comem cianobactérias e nem algas petecas.

Physas:


As Physas possuem quase as mesmas características dos Planorbis, porém elas  costumam sair do aquário na falta de alimentos, dificilmente atacam as plantas, mas pode acontecer em situações de escassez de alimentos. São extremamente prolíficos podendo gerar descendentes rapidamente, mas seus ovos não possuem casca e são um ótimo alimento para os peixes, o que gera um controle natural.



Ampulárias:

Pomacea bridgesi, a Ampulária é o caramujo mais “famoso” dos aquários do mundo, primeiro pelo seu tamanho, passando facilmente dos 10cm quando adulta, pela sua cor amarela e por sua voracidade por algas. A Ampulária, é hemafrodita, porém prefere um parceiro para reprodução, porém pode gerar ovos mesmo quando é a única no aquário, apesar de raro acontece. Seus ovos são colocados fora da água em um casulo em forma de cacho de uvas, depois os filhotes nascem e caem na água. A Ampulária, prefere algas porém se este alimento faltar ou se ela simplesmente estiver com vontade ira comer as plantas, preferindo as mais moles e menores (carpetes de Cuba ou Glossos podem sofrer)

Neritinas:
Neritina natalensis, Neritina Zebra, é um dos caramujos de aquário mais bonito que temos até então, suas cores são bonitas e vibrantes, são ótimas comedoras de algas as preferindo a não ser que não existam mais outra alternativa que não sejam as plantas. Ela não se reproduz em cativeiro pois os filhotes necessitam de água salobra e com parâmetros certos para crescimento, o que a transforma em uma boa alternativa no aquário, porém existe um inconveniente, elas continuam botando os ovos, que grudam em todos os cantos do aquário deixando vários pontos brancos e que dão um bom trabalho para remover já que não nascem filhotes dele.

Melanóides:
Melanóides tuberculata, também conhecido como caramujo trombeta, é uma das espécies mais comuns nos aquários, sua carapaça é alongada (por isso “caramujo trombeta) e tem hábitos notívagos. Se alimenta de material em decomposição e algas e tem como característica se enterrar no substrato durante o dia, o que faz dele inconveniente em aquários plantados, já que a camada fértil pode entrar em contato com a água e causar problemas. Sua reprodução se dá através de partenogênese, onde a fêmea é responsável pela fecundação do óvulo sem a necessidade do gameta masculino.

OK ! Mas devo ou não mante-los no aquário ?

  A resposta seria simples e direta, sim! Seria, se fosse simples e direta, mas infelizmente ela é um tanto subjetiva, do ponto de vista meramente ecológico não haveria por que remove-los, porém alguns acham pouco estéticos, outros tem nojo, outros não simpatizam, alguns caramujos até comem plantas. Enfim depende da maneira e de como está equilibrado o aquário. Devemos lembrar que caramujos desempenham papel importante, principalmente onde eles são mais odiados, como em aquários plantados, pois ao ingerir restos e algas, os caramujos reviram o substrato, fazendo com que seus detritos adentrem no substrato, permitindo que as raízes das plantas absorvam os nutrientes desses detritos. Esse efeito porém é indesejável em aquários sem plantas, pois pode ocorrer eutrofização do sistema, o que seria fezes demais e planta de menos para absorver o excesso de nutrientes, e neste caso devemos ter peixes que gostam de um escargot criamos este equilíbrio. Mocinhas, Betta, Paraisos, Colisas e camarões fantasmas são ótimos predadores de caramujo e chegam a extermina-los. Além disso, é interessante fazer um controle manual durante as manutenções do aquário, se não houver predadores no aquário, sugando com um mangueirinha, apenas para que eles não saiam do controle, no caso de caramujos pequenos, como Planorbis, Physas e Melanoides.

Então antes de fazer aquela armadilha para caramujos ou então antes de encher de remédios e venenos, saiba que é muito fácil conviver e controlar do que remover, já que é muito provavel que o aquário se desequilibre e que todo o esforço seja em vão. Lembrem-se que alguns molusquicidas podem matar as bactérias benéficas do nosso aquário e com elas o resto da vida nele. Então EQUILÍBRIO! E assim devemos aprender a conviver com os caramujos ou exterminá-los de uma forma inteligente.
Fonte: Aquaflux - Autor:Fabio Burgarelli e Gustavo Tokoro (21/04/2010)

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